Representantes do movimento negro criticaram ontem a maneira como o deputado Júlio Campos (DEM-MT) se referiu ao ministro Joaquim Barbosa (foto), do Supremo Tribunal Federal (STF), chamando-o de 'ilustre ministro moreno escuro'. O caso ocorreu anteontem durante reunião da bancada do DEM. Em nota, o deputado pediu desculpas.
Contudo, mesmo com a retratação do parlamentar, a situação gerou desconforto entre membros do movimento, já que Barbosa é considerado um ícone por ter chegado à Corte Suprema e ter se assumido 'verdadeiramente negro'.
'Parece ser impossível um País que deixa o povo 388 anos escravizado e, em seguida, excluído de seus direitos básicos, estar preparado para respeitar o negro', afirmou Frei Davi Santos, da ONG Educafro.
Segundo o dirigente, a situação criada pelo parlamentar deve mobilizar a sociedade a refletir sobre a presença negra nos três Poderes. 'Quantos juízes negros nós temos, quantos governadores, quantos deputados federais?', questiona. 'Para mim, ele (Campos) é vítima da sociedade. A sociedade levou-o a tratar mal o negro.'
O advogado recém-formado Julio César de Oliveira, também ligado ao movimento negro, trata Joaquim Barbosa como referência para sua carreira e vê a declaração de Campos como uma afronta. 'Uma punição não apagaria a mancha que (o deputado) deixou', disse.
Oliveira relembrou uma visita do ministro à universidade que cursava, em Franca (SP), há dois anos. 'Ele contou que sentiu falta de apoio e perseguição oculta. Disse que quem praticava o racismo eram as instituições. Eu concordei plenamente', observou.
O diretor da ONG Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), Humberto Adami, considera o caso já superado com o pedido de desculpas e credita a declaração à 'pouca presença negra no governo'. 'Eles não estão nesses lugares, a ponto de um deputado ficar tão impressionado com a cor da pele', observou. O ministro Joaquim Barbosa não se manifestou.
Fonte: Agência Estado
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