17 de abril de 2011

Sinais de vazio na Copir-DF

 A despreocupação do Governo do Distrito Federal, por meio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, com a população negra da capital da República pode ser constatada com a desatualização da página da Sejus na internet. Lá, ainda figura como titular da Coordenação para Assuntos da Igualdade Racial (Copir) João Batista, titular do cargo na degradada administração do ex-governador José Roberto Arruda. Aliás, a página da Sejus está completamente desatualizada, exceto a capa que mostra os índices de aceitação do governador Agnelo Queiroz.

Mas isso não prova que o governo ignora a população negra do país. A princípio a afirmativa é verdadeira. No entanto, nos pequenos gestos observa-se o interesse e a responsabilidade da Sejus com o tema. Igualmente, verifica-se o descaso com a questão. No caso, constata-se que até agora não ocorreu nenhum fato relevante que merecesse ser noticiado no portal da Sejus em relação ao segmento afrodescendente do Distrito Federal. E, vejam, não por que os negros estejam desorganizados na capital da República. Nas prévias da 3ª Conferência de Cultura, o movimento negro deu provas inequívocas de sua capacidade de articulação e força perante o governo. Elegeu um grande grupo para participar da conferência. Mostrou que tem organização, temas e produtos para colocar a questão racial na pauta das políticas públicas do DF.

No momento, a religiosidade afrobrasileira da capital lidera um movimento nacional contra o racismo e a homofobia. As adesões à inciativa que partiu da capital federal crescem a cada dia. Mas a Copir parece alheia ao que ocorre no seu espaço de atuação. 


Mais de 100 dias depois de instalado o atual governo, a maioria dos negros brasilienses desconhece a proposta de ação da Copir. Sequer foram chamados para um amplo debate, a fim de colaborar com a formulação de políticas públicas voltadas ao segmento afrodescendente. Porém há demandas e reivindicações históricas que precisam ser rediscutidas e as prioridades organizadas, uma vez que o Executivo não teria recursos suficientes para deflagrá-las em um único momento.

A realidade dos negros do DF é tão dramática quanto aos do restante do país. Em 2009, no DF os negros somavam a 60% da população economicamente ativa. Conforme estudo do pesquisador Marcel Sant'Anna, eles vivem principalmente na Estrutural, Brazlândia e Recanto das Emas, onde a renda per capta da população é menor.

Na taxa de desemprego eles também são maioria (65,1%). Para os que estão à procura de uma ocupação, o tempo de espera por uma oportunidade é de quatro semanas a mais do que para os de pele clara (65 para 61). As principais vagas abertas nos últimos quatro anos para eles foram na indústria, construção civil e serviços. O rendimento dos afrodescendentes simboliza 63,6% do que ganham os brancos, apesar de trabalharem uma hora a mais.

O preconceito também existe dentro das escolas. Pesquisa coordenada pela socióloga
Miriam Abramovay apontou que 2,1% dos alunos de 84 escolas públicas do DF alegaram não gostar de ter colegas negros nas salas de aula. Entre os professores o número é ainda maior: 2,5% deles não gostariam de dar aulas para pessoas de pele escura. Outro dado colhido revela que 55,7% dos estudantes e 41,2% dos professores dizem saber que existe preconceito racial nas instituições educacionais. Um reflexo disso é que apenas 13,3% dos alunos e 10,8% dos professores se declaram negros.

Diante desses dados, quase dois séculos depois de abolida a escravidão, torna-se estarrecedora a ausência de políticas ou inação do governo em relação aos afrodescendentes. A simples desatualização de uma página na internet revela que há um vácuo na definição dentro do governo local. Ou pelo menos é um forte sinal.

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