Programação começa dias 12 e 13, com a celebração da vida e obra de Abdias Nascimento, um dos maiores líderes negros do Brasil
Bleine Oliveira | Gazeta de Alagoas - Repórter
É novembro e a faixa de terra onde negros, índios e brancos conviveram em harmonia e liberdade, há mais de 300 anos, um refúgio seguro para escravos fugidos, a Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, é novamente reverenciada como o farol da liberdade e da resistência humana. Os olhos do Brasil e de muitos países, principalmente da África, voltam-se para a Serra onde Zumbi dos Palmares conquistou seu espaço na história.
A programação preparada pela Fundação Cultural Palmares (FCP), por meio de sua representação regional em Alagoas, começa no próximo fim de semana, dias 12 e 13, com a celebração da vida e da obra de Abdias Nascimento, um dos maiores líderes negros do Brasil, que morreu em maio último. Suas cinzas serão misturadas à terra durante o plantio de uma muda de baobá, árvore sagrada do povo africano.
Para receber a multidão que deve vir a Alagoas, estão sendo providenciados reparos no Parque Memorial Zumbi dos Palmares, espaço que, junto com todo o sítio formado pela Serra, foi transformado pelo governo brasileiro em Patrimônio Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O tombamento ocorreu em 1986. O parque é aberto à visitação, mas nem o governo de Alagoas nem a Prefeitura de União dos Palmares investiram ainda o necessário para assegurar vida cultural e histórica permanente como atrativo aos visitantes.
Parque receberá cinzas de líder
No próximo dia 12, iniciam-se as festividades do mês da consciência negra, quando autoridades e convidados visitam a serra em uma intensidade que bem poderia ser rotina ao longo do ano. O ponto de partida das comemorações está sob responsabilidade do Projeto Raízes de Áfricas. Com o apoio da Fundação Cultural Palmares, do governo do Estado e da Prefeitura de União dos Palmares, o projeto realiza, em Maceió e União dos Palmares, a cerimônia de homenagem a Abdias Nascimento.
Deputado federal, secretário estadual, senador, pintor autodidata, escritor, jornalista, professor benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor Honoris Causa pelo Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade de Brasília, Abdias dedicou a vida à luta pelos direitos do povo negro do Brasil. Sua militância será reconhecida no Ìgbà Àbídí – 1º Seminário Afro-Brasileiro: Celebração da Vida e Obra de Abdias Nascimento, marcado para sábado (12), às 9 horas, na Faculdade Integrada Tiradentes, na cidade de Maceió.
Causa merece mais atenção da sociedade
Responsável pela representação da FCP/AL, Genisete de Lucena Sarmento também cuida da manutenção do Parque Memorial. Embora reconheça que o trabalho de preservação precisa ser permanente, e não apenas em novembro, ela ressalta que muito já foi feito ao longo dos anos que se sucederam ao tombamento da Serra da Barriga.
Mas não deixa de manifestar a compreensão de que o governo de Alagoas, a Prefeitura de União dos Palmares e, principalmente, o governo federal poderiam dedicar maior atenção ao sítio arqueológico. “É um processo longo, estamos avançando, mas o Brasil ainda está longe de ser um País consciente de sua negritude”, disse Genisete.
Com seus 560 metros de altitude, o Quilombo dos Palmares foi fundado pela princesa angolana Aqualtune (mãe de Ganga Zumba), que, grávida, fugiu de um engenho em Porto Calvo e desbravou a região. São fatos históricos pouco conhecidos, da mesma forma que a história dos negros no Brasil é mantida sob o manto do desconhecimento.
Falta de investimento no Quilombo dos Palmares é criticada
Definindo-se como admirador profundo do líder negro Zumbi dos Palmares, Diógenes Tenório afirma que é preciso fazer um exercício profundo de imaginação para compreender a coragem daquele homem que sonhava com a liberdade e, para conquistá-la, enfrentava o poder imperial e toda a estrutura da época. “Uma luta absolutamente desigual. Uma insurreição tão forte que ecoou mundo afora”, avalia o juiz de direito.
Para ele, diante do que representa como símbolo humano de luta por liberdade, a Serra da Barriga merece mais atenção e investimentos.
O presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed/AL), Wellington Galvão, junta sua voz aos dois outros alagoanos para criticar a falta de investimentos tanto da União quanto do governo de Alagoas, naquele sítio arqueológico. “Lamentavelmente, as ações são acanhadas, longe do valor que tem a Serra da Barriga e o que ela representa”, declara o dirigente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário